Sofia recebe abraços pelo correio

Eu hoje queria dormir, mas não consigo. Anda assim a menina. O mal não permeia mais seus poros. Viajam dissipados pela chuva grossa que teima em cair. Foi quando caminhando pela rua, a água não deu trégua, encharcou-a inteira. Ela e as amigas foram pegas de surpresa. Corriam, corriam, Augusta acima. “Vamos correr?” Não adianta. Vai molhar. Devolvera-me muito esta semana. Diálogo mudo. É bem aquele em que se fala para a parede ouvir. Ela caminha pela casa, frenética. Anda, anda, pensativa, prestes a explodir: “Oi, será que um dia vão nos dar o devido valor, por favor?” Ao que me responde: “Não, somos seis bilhões de pessoas.” Ah, tudo bem. Calmamente, dirijo-me, digerindo essa azia, aos meus aposentos, e sento-me para ler o meu jornalzinho. São as notícias do dia. Mas não hoje. Não são as do dia. São as que foram. E ainda são. Serão. As nostálgicas. Novidades vindas, infindas. Contadas com o gosto gostoso. O longe não é perto. Causa dor. A da ausência. Não te preocupes, quero dizer. É que como te digo, digo para mim. Sabemos bem, não há certeza. Vivemos juntos o valor de uma amizade sincera. Nunca soubemos o que dizer, apenas quando parar de dizer. Eu senti lendo. Senti-me à vontade, e senti a vontade. Era assim, fluído. Creio nunca ter sido tão simples. Sem explicação. A tua caneta cansou no exato momento em que eu apareci no teu texto, foi quando apareci em tuas memórias. E não pude tornar-me real. Estarei sempre aqui. Sentindo tanto quanto. A solidão é apenas a nossa companhia. Não te preocupes, não acostuma, mas tem um dia em que nos habituamos a viver com ela, e quando ela fica longe muito tempo, é que o coração aperta.

Comentários

luiza pannunzio disse…
É!
Exatamente isso.
:P

bj
lp
(acredita que o 43 me ligou... AFF!)

Postagens mais visitadas