Sofia caoticamente caminha entre flores, pessoas e sente-se feliz

Se o que dizem é verdade, a prática leva a perfeição, então lhes dou razão. A quem? Bem, eu também não sei. Alguns dias parada e já me sinto quase inapta para voltar a escrever. Acho que minha criatividade se esvaiu. Foi para o buraco. Comecei a sentir algo explodir dentro de mim. Nada novo não, familiar sentimento. Uma lombriga que percorre o meu corpo. Presa. Não tem escapatória. É quase um impasse. Muitas vezes fica alojada em partes do meu corpo por meses. Causa dor. Itinerante. Nódulos de tensões, nos casos mais amenos, gastrites agudas, nos mais graves.
Acordei uma página em braço. Tipo de dia ígneo. Idealizações confundem-se com pequenos momentos, em que se pode tocar no que é real. Ouso ir além, afirmando sentir esse misto de abstração, quase um nada, e algo de concreto, o que chamo vida, quando respiro bem fundo, enchendo meus pulmões de ar. Confesso, entre parênteses, quase com pesar, ainda dói um pouco o peito. Arrumei meu quarto hoje. Dessa vez não eram gavetas alheias. Eram as minhas. Estava preparada suficientemente. Não precisava organizar os pensamentos, para depois botar ordem na bagunça. Venho a tempo limpando o caos do que forma o meu eu. Acho que estamos bem, as gavetas e eu. Vamos indo, passo a passo. Baby steps. Os muito grandes causam distensões. Os muito pequenos engessam. Estou leve, me sinto bem, apenas. Dormi.
- Você vai ouvir Arcade Fire de novo? Já tocou três vezes! Não dá para trocar? Esse cd é um pouco depressivo...
- Ah! Não me parece... Gosto tanto! Já tocou três vezes? Nem percebi!
- O nome do álbum é Funeral!
- Ah!
Acordei. Tipo de dia vulcânico. Estava certa de que tinha um compromisso. Levantei, tomei café, me arrumei e saí de casa. No passar de tempo, não estava mais certa se havia marcado o compromisso ou não. No percurso da minha casa até o local, minha dúvida aumentava em progressão geométrica crescente. A vida é assim. Dúvidas e mais dúvidas. Estamos sempre nos perguntando se estamos tomando as decisões certas. Se vamos chegar aos lugares certos. Passei alguns minutos me achando idiota por não ter ligado e confirmado antes. O acaso me aprontou uma surpresa. Encontrei alguém que buscava há algum tempo. Lá vinha ele, lindo e loiro, de terno e gravata, descendo a rua. Situação ideal. Nada poderia dar errado. Tomei coragem, afinal já havia até ensaiado. Dessa vez, olhei nos olhos. Tudo bem o fato de eu estar de óculos escuros. Tentei abrir o meu sorriso. E... Não sei explicar. Tudo acontece na velocidade de um piscar de olhos. Ele não retribuiu minha tentativa torta de sorriso. Fez uma meia menção de virar para trás. Sim, existe algo como uma meia menção de virar para trás. Segui meu trajeto sem graça. Ah, vai, foi um pouco engraçado! Pelo menos ainda habitava dentro de mim uma terrível incógnita. Tinha ou não tinha eu compromisso? Sim, eu tinha. Continuo tendo. Vários. E encontrando cada dia mais. A graça está exatamente no efêmero das coisas. Acho que ando respirando um ar menos poluído nesses últimos dias.

Comentários

Adriane Hagedorn disse…
Dear,
não sei se com os outros funciona desta forma, mas comigo, a cada mudança de ciclo uma limpeza\arrumação de gavetas se impõe. pra mim este é um sinal positivo. e não adinta vc querer marcar data para a organização, pq o conteudo das gavetas vai continuar desentendido. é preciso respeitar estes tempos.

eu ficaria muito feliz se acordasse nesta madrugada com uma ânsia para arrumar cada milímetro. mas a minha ânsia hoje é a de desconforto físico mesmo. nada cai bem, nem mamão.

e só o fato de lançar olhares por trás dos óculos escuros já quer dizer que não só as gavetas, mas as caixinhas, os armários, os cantinhos já estão prontos a se re-organizar.

isto só faz bem!

um beijo

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