Reviro, ando revirada, procuro, ando procurada

Vamos revirar. Andar pelas ruas ao contrário. Com as verdades estampadas na testa. Para que todos vejam o que realmente somos. Sem filtros. Ou talvez, uma peneira, com pequenos furos, por onde a claridade possa passar. Assim, irradiando o que eu não sinto. Inconstâncias, não sei se existem dentro de mim. Ou sei. Apenas não mostro. Quero esconder tudo. Guardar só para mim. Percebo que compartilhar não vale a pena. Me apequena a mesquinhez. Sei o que quero. Por isso não me adianta vires com tanta beleza de bandeja. Me ganhar, não vais. O que fazes é pouco. Não vais me agüentar. Quero mais. O que nutre meu espírito não encontro figurado. Vai além. Desperta outros sentidos. Aqueles que não consigo compartilhar. Estão trancafiados. O que busco não é insólito, apesar do que me dizem. Quero algo compatível. Falar para quem me ouve. Sem muito ter que explicar. Sem muito ter que perguntar. Eu sei, bem demais já te conheço. Poderia entrar na tua casa, colocar todos os vinis que tu gostas na vitrola. Não tens uma, és moderno demais. A vitrola é minha. Dançaríamos a nossa dança. Agora juntos. Por tempo suficiente desfrutamos momentos de solidão. Seguros de nós mesmos, criamos algo nosso. Na minha casa, na sala onde não tem cortinas. Ignorando os vizinhos. Somos assim. Não nos importamos com a opinião alheia. Não falamos muito. Sabemos o que sentimos quando nos olhamos. Trocamos palavras pelos olhares. Tu me buscas de carro para jantar e está tocando a música que eu gosto. Não preciso te explicar nada. É assim, simples, indolor. Sem calmantes ou analgésicos. Contigo a vida flui. Sou leve. Nos sorrisos que trocamos esquecemos o peso do mundo. Sei que não por muito tempo. Eu tiro o pepino da minha salada. Sempre. Não suporto pepino. Tu tomas café amargo. O mundo não tem graça sem o amargo do teu café. Quando vamos a um restaurante com buffet de saladas, nunca entendemos o casal da mesa ao lado que pede uma salada à la carte, tendo uma mesa enorme de opções à sua disposição. Achamos ridículo, de certa forma, conseguimos ficar irritados. Somos ranzinzas, reclamamos. Dois minutos de silêncio. Nos olhamos, caímos na gargalhada. Apenas tu tens o poder de me virar do avesso.

Comentários

Unknown disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse…
Maravilhoso...
Transportei-me...
Vana

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