Pactos ou o dia em que Sofia se apaixonou pela última vez

Hoje eu sinto todo o mal-estar do mundo
Não tenho corpo que agüente
Foi demais
Guardei por demasiado tempo segredos alheios
Sequer sabia, sequer tiveram a coragem de contar-me
Só assim, tempos depois, pelo acaso da vida, venho a descobrir
Muito claro, diriam, mentira tem perna curta
É que eu, bem eu, não creio em tamanha falácia
De tamanho imbróglio que tramaram nunca tive ciência
Não tiveram nem sequer a decência de me avisar
Fui tragada pelo repuxo das circunstâncias
- Eu agora frito panquecas!
- Estou vendo outra pessoa. Meu tempo não pode ser seu!
- Não posso lidar com você agora! É demais para mim!
Farta! Fuja! Corra! Vá! Pouco importa!
As memórias são realmente o que de mais bonito tivemos
Das vezes que mais me penetrastes não estivemos juntos de qualquer maneira
Por essa razão continue na sua busca eterna do nada que a sua vida sempre foi
Nas vãs tentativas de falar o absurdo
Não quero brincar de construir pessoas-lego, para em um simples chute destruí-las
Guardei o teu fantasma mesmo sem saber
E mesmo assim consegui te admirar
E talvez ainda te admire por
Essa incrível capacidade de passar por cima do que é real simplesmente para não sentir
Porque sentir dói
Desculpe-me se tenho todo o peso do mundo com menos de cinqüenta quilos
E minha decisão de soprar palavras ao vento tem o poder de causar vendavais em tua instável vida
Lembre-se que essa opção nunca foi minha
Estraguei a tua felicidade?
Aquela que era nossa?
A da caixinha? Com laços e fitas cor-de-rosa?
Estou de mal. Comigo. Contigo. Com o mundo
Pintei tudo de preto. As janelas. O meu coração
Não quero ver ninguém. Nem o sol entrar
Tranquem tudo. Tem um nó na minha garganta
Não consigo engolir. Falta-me ar. Não tenho onde buscar
Minha cabeça lateja. Sinto vontade de vomitar
Escrevo de forma simples e clara, nua, vulnerável como uma criança chorona,
Pois é assim que me sinto. Roubaste meu a chave do meu coração
Depois de ti ninguém mais entrou
Eu não deixei. Ficou gelado. Áspero. Duro como uma pedra
Não gosto que se aproximem. Tenho medo que me machuquem
Do mesmo modo que tu me feriste
Tínhamos um pacto
Íamos nos amar para sempre
Eu acreditei
Tu quebraste
Eu chorei
Sofri
Ainda choro
Preciso fazer outro acordo
Dessa vez não é contigo
Em ti não confio, nem gostaria
Não te quero e não gosto mais de ti
Apenas sinto falta da alegria que senti enquanto estávamos juntos
Sou viciada em sentimentos
Preciso viver com o meu coração
E paixão verdadeira querido, tivemos de sobra
Dessa vez o pacto é comigo
Depois de um longo processo burocrático mental kafkaniano
A sentença final é rápida e indolor: eu te liberto, tu me libertas
Nesse exato momento estarei pronta
Voltarei a entender o sentimento, a emoção
De olhar alguém nos olhos sem ter vontade alguma de explicação...

Comentários

Adriane Hagedorn disse…
Maira darling,
o texto é triste, mas as palavras são tão pesadas, tão poéticas, que toda a dor fica até sonora e quase palpável. este conjunto de palavras é lindo.
Unknown disse…
Nossaaaa sensacional!
Super verdadeiro!

Postagens mais visitadas