No escuro do mundo

São sérios os senhores de gravata e paletó?
E os meninos de terno ajustado?
Não sei!
Será que eles suam a camisa para no jornal
Declararem-se cansados?
Eu estou cansada
Creio que meu porteiro está cansado
E quem me olhou na rua hoje de manhã
Cansado também estava
Estamos todos cansados
Aqueles que não temos caras
Colchões, casas, comida, calor
Eu ando amargo, você não vê
Está ocupado, anda ausente
Na sua imensidão eu inexisto
Sou joguete
É pouco azul para imensidão de cinza
Alguém atire por obséquio um pouco de tinta
O olho agüenta
O coração fraqueja
Quase finge que acredita
São sérios esses meninos que trajam o descaso?
Esses mesmos que não usam All Star
Indagam os famintos
O que há de se comer
No lugar em que nunca hão de poder entrar
São barrados em todas as festas
É muito azul para tanta água
Corre tempo
Correm lágrimas
Fechem os olhos
Na vã tentativa de estancá-las
A beleza está muitas vezes
Naquilo que não se pode sentir
Ou mesmo tocar
Ousem viver trancafiados em si mesmos
Para realizar que a beleza da pérola
Descansa inacabada dentro da concha
Paira...
Simplesmente protegida...