Das vezes que gritou por não conseguir falar ou Sofia em suas entrelinhas

Ensaio escrever para mim aquilo que não quero ouvir e não tenho coragem de sentir. Ando tão cansada. Queria ter na mão uma caixa e entregar para mim mesma quando tinha menos idade. Quero hoje gritar, mas não tenho força, já berrei demasiado ao longo da minha vida. Passou. Sei que passou. Mas não consigo hoje ser menos triste. A ferida ainda está aberta e sangra. Não estou sendo dura. Só queria, talvez, dizer que ela poderia ter vivido de outra maneira, que outras possibilidades existiam. Eu não conhecia. Não é que sempre tenha vivido na infelicidade. Fui muito feliz. Experiências sempre muito extremas. Achava que a vida era outra coisa. Que os sentimentos eram outras coisas. E realmente talvez, naquele momento fossem. Já cheguei a acreditar que teria tudo pra sempre.
O que mais me magoa é saber que eu sempre poderia ter vivido como vivo hoje. Impressiona-me ouvir: “Eu gosto de pessoas loucas!” e saber que impressionei muitos me fantasiando de Rainha Insana. Aviso que pouco do espetáculo era real. O verdadeiro estava sempre muito escondido. Dói também saber que muito poucos estão preocupados com o que é real, se é que isso existe.
Acabo fascinada em desvendar a importância da simplicidade. Sempre achei que precisava de excessos. Encantam-me os pequenos prazeres. Nunca soube conviver comigo. Tinha medo. Precisei de vícios pra me mascarar. Tenho consciência desde muito cedo de traços da minha personalidade e isso sempre me fez sentir como se eu não pertencesse.
Já esqueci quem eu era por outras pessoas que não valeram. Já me deixei levar. Esqueci quem eu era, do que gostava. Doei-me pra quem não merecia. Eu era uma criança. Algumas feridas não curaram. Eu voltei em vão. Quis falar. Chorei, gargalhei mesmo triste. A partir daí, não soube mais o que era amar. O vazio não me deixava e eu achava que ia me preencher com alguém em cima ou embaixo. Nunca deu certo. O vazio era igual. Com eles ou sem eles.
Tenho dúvida da pessoa que fui. Às vezes, sinto raiva, noutras vergonha, numas fico triste. Queria poder superar e transpassar esse abismo. Exorcizar os fantasmas. É como se devesse algo pra mim mesma, e tivesse que pagar, mas em todo o mundo não existisse moeda compatível. Creio que no fim, o que aconteceu foi suficiente. Gosto da minha vida. Sempre gostei. Tenho achado tudo um pouco estranho. Talvez, se eu não tivesse agido exatamente do jeito que agi, não seria eu mesma, tornando-me a pessoa que sou. No momento que fiz o que fiz, não sabia fazer outra coisa.

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