Somente só

Viajava olhando pela janela do ônibus. O pensamento estava longe quando avistou um cara parecido com o ex. Ok! O tipo físico não era incomum. Tinha a impressão de que ele se multiplicava pela cidade e aparecia assim, do nada, na padaria, no cinema, na faculdade, ou até em lugares mais inusitados como a fila do banheiro feminino. Perseguição. Ele estava em todos os lugares. Em alguns momentos chegou realmente a ficar em dúvida se era ele, tendo passado por algumas situações constrangedoras. Digamos que, na menos pior, toda sorrisos, acenou três vezes na direção de um indivíduo acompanhado que, sem graça, manteve-se firme e forte no intento de fingir que não a via.
Invisível. Era ela. Era como gostaria de se apresentar para as pessoas: Prazer, meu nome é Invisível. Percebeu que estava passando pelo cemitério e leu o anúncio: “Este cemitério mantém uma infra-estrutura completa para garantir o seu bem-estar com o mais algo padrão. Venda de Concessões: fale com o nosso representante pelo telefone tal”. Pensou no ex, no anúncio e percebeu que se precisava multiplicar o seu ex por pontos distintos da cidade era porque se sentia sozinha. Ele já não tinha importância real nenhuma para ela, não naquele momento.
Sinceramente tem visto alguns exs imaginários caminhando pela Paulista, tipos físicos variados é o que não falta nessa cidade para fazer a cabeça delirar, tomando cafés, andando de metro, perambulando por aí. A importância que tinham foi momentânea, se relativizou na efemeridade do relacionamento, que dura o que tem que durar, nem mais, nem menos, ou, às vezes, um pouco mais, ou, um pouco menos. Olhando para trás acha tudo simples e tem saudades, apesar de nem sempre. Tem uma certeza, a de que não trocaria o seu momento pelo que já viveu.
Nalgumas vezes, quando desce do ônibus e caminha para casa chora triste, sente a solidão. Não acredita nos relacionamentos que já teve. Não acredita no amor do jeito que já conheceu. Crê que nunca se deixou amar ninguém. No muito, para não sentir-se tão vazia, usou as memórias, mesmo sabendo que o fazia em vão, que já não diziam mais nada. Inventou mais algumas virtualidades, ainda brinca de encontros e desencontros em um dos esportes preferidos “sobe a rua, desce a rua”, mas no fundo sabe que está só, somente só.

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