O inusitado sightseeing paulistano (ou o que fazer num dia de tédio nublado, chuvoso e cinzento)

Faz um tempo eu sei, resolvi escrever pra botar no papel e tentar entender melhor, aquilo que mesmo sei, não há explicação. Às vezes a vida é como pegar um ônibus errado. Você está esperando a condução no ponto. Chove muito e faz frio. Condições insípidas. Você ignora que ônibus tomar. Habitante nova de uma cidade grande, não conhece as linhas. Chega o primeiro e embarca, afoita, como se fosse a salvação. Por quê? Ansiedade. Medo. Frio. Saco cheio. Um monte de coisas. Não importa. O fato é que no começo você não tem certeza de que é o ônibus errado. Momentaneamente confortável, sente-se um pouco mais aquecida, sentando-se, larga a sombrinha.
Tudo parece que vai bem. Até que você percebe que aquele não é bem o seu caminho de rotina. Ok. Pode ser um pouquinho diferente. Vai ver o motorista resolveu variar. Ou melhor, variando está você. Um tempo depois, decididamente, está no caminho errado, viajando a cidade por caminhos nunca dantes navegados. É nesse momento que o ônibus para no meio do nada, desliga o motor, o cobrador e o motorista te olham com a maior cara de coerência, descem, te mandam descer e avisam: “Moça, é o ponto final!”. “Como assim? Esse ônibus não vai pra Paulista” Eu podia jurar que estava escrito PAULISTA do lado do ônibus. “Moça, tem que descer!”
Ok! Eu desci. Na vida é assim. Muita paciência. Desci na chuva, frio, vento. Esperei o próximo ônibus em um lugar totalmente desconhecido, continuava perdida. Finalmente o próximo chegou. Eu entro. Já um pouco apreensiva. A confiança já um pouco abalada. Começa o que será uma longa viagem, numa tarde cinzenta e chuvosa. Depois de rodar a cidade inteira, no que foi o sightseeing mais chato da minha vida, tomo coragem e pergunto pro cobrador se realmente vou chegar ao meu destino. Tento contar pra ele a minha trágica história. Ele nem se comove, deve ouvir duzentas iguais todos os dias. Me fala, com toda a paciência, que o melhor é sentar e esperar, já estamos quase chegando, apenas uns dez minutos.
É possível saltar no meio do caminho quando se pega o ônibus errado, correndo o risco de se ter que dar mais voltas do que o necessário. A sensação é ruim. Desagradável ver lugares e pessoas passando sem poder muito fazer por ter se precipitado e cometido um erro. O melhor é seguir o conselho do pacífico cobrador. Não há motivo para qualquer tipo de descontrole. Sim, você poderia ter ido numa linha reta. Mas estradas geralmente têm curvas. Aproveite enquanto o ônibus dá as voltas pelos lugares mais distantes da cidade. A vantagem do veículo é que pegando o errado você faz os cálculos se desce ou não. No fim, existe certa garantia do destino final. Na vida não. Talvez essa seja a graça.

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