Do seu próprio funeral

Estavam todos sentados na sala. Olhava tudo ao redor, fixamente. Fechou os olhos buscando no fundo de si algo que sabia perdido. Sinto como se alguém tivesse morrido. Carrego um funeral. Já matei alguns fantasmas, outros me agarram, me prendem, me seguram. Muitas vezes gritam comigo.
Uma parte de mim morreu. Está doendo carregar o peso que não me pertence. Pertences que deveriam ter-se diluído. Já não significam, mas latejam, inflamam. Fantasmas. Tenho medo dos que a minha mente produz. Tenho a vida, me escapa. Olho-a passar como se estivesse deslocada do meu corpo.
Não sou eu. Espero. Paciência! Dizem-me. Quanto mais penso em tempo mais sinto meu estômago queimar e mais sinto o amargo em minha boca. Não me acostumo. As lembranças não me deixam. Não sou quem sou e não sou quem serei. Caminho. Olho as pessoas na rua. Sinto-me sem coragem, todas parecem mais felizes do que eu. Não sou feliz como deveria ser. Como posso estar feliz no meu funeral? Não posso mais viver sem o meu coração. Mas não sei onde ele está. Está parado. Não bate. Não o escuto mais. Não o quero escutar mais. Sinto-me cansada. Meu corpo e minha alma dividem-se. Não querem conviver. Ao mesmo tempo querem encontrar a paz e ser um. Meu funeral é eterno. Poucas vezes posso sair e respirar. Respirar fundo dói. Levantar a cabeça dói.
Exagero, tudo é demais. Não quero pensar, quero esquecer. Quero ter o poder, quero conforto dentro de mim. Não quero ninguém. Estou cansada e perdida. Tentei algumas vezes. Não sei. Medo. Vulnerabilidade. Não quero mais sentir-me assim. Alguém quer? Minha cabeça dói. Tenho vontade de vomitar. Meu corpo não agüenta. Até que ponto meu funeral vai durar? Já faz muito tempo. É pra sempre? Como pode ter fim se o novo ainda não surgiu? Ou está sempre surgindo? Eu sei. Eu que tenho que criar. Todo dia. Todos os dias. Cansada.

Comentários

Unknown disse…
Impressionante....

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