Sofia, um café, o espelho e umas verdades indeléveis: aperte o botão e faça funcionar

Era um daqueles dias de cabelo bagunçado – combinava com o estado de espírito. “Relacionamentos são como café”. O pensamento enfumaçava sua cabeça enquanto tentava dar um jeito naquilo que não tinha. Secador e uma escova redonda em punhos. “Pequenos vícios: você sabe que não deve, mas não consegue viver sem, por mais que possam dar uma baita azia, queimação ou dor de cabeça, são, no fim, o que te mantém viva!”. Já havia tentado largar, sem problemas em confessar, admitindo sua fraqueza em não conseguir.
“Vem me dar a mão, me leva para onde ninguém mais nos possa ver.” É que hoje o mundo não me apetece, não me importa seu policromatismo. Quero me ver perdida, trilhando trilhas tortas. “Vem comigo”. É que não devemos. Já não me importa. Sou levada, sem o peso, tudo é leve, o sabor se mostra transformado. Sou distanciada da razão. Pensamentos perdem-se em vontades difusas. É que eu quero existir Aqui sou eu. Confortável. Tudo o mais que me conturba ficou trancado, porta afora. Assim, eu perco-me em ti, mas volto. Flutuo de mim para ti. Enroscada, não quero levantar. “Vamos ficar aqui, o dia inteiro?” Mas se não pularmos de volta na realidade, esses momentos que passamos juntos cairão na banalidade... “Quem inventou tal absurdo jamais deve ter passado por algo assim. Gosto de ver teu sorriso, da tua gargalhada, aquela verdadeira, que sai de dentro. Sinto que as superficialidades sérias são quebradas e podemos nos olhar de verdade. Tiramos as máscaras, tão bem colocadas, de instaladas já fazem parte. Enxergo-te por baixo delas, me vejo também, sem as minhas. Quero parar o tempo, parar a realidade, por mais que eu tente ser real, o tempo inteiro”.
Existo, sou uma pessoa. Um pouco ferida, fatigada, um tanto quanto descrente. Você pode me tocar, não desaparecerei. Ao contrário, é assim que tomo minha forma material, deixo de ser etérea. Na troca tudo passa a existir, ao mesmo tempo, vivencio um senso de verdadeiro. Respiro fundo e aproveito o que o momento pode me dar.
No mais, oscila, quer acordar radiante, acreditando no mundo, em si, nas pequenas coisas, e que estas, grandes se tornarão. Lembra-se de quando tomava banho de lagoa, a água parada, não havia ninguém além dela. Colocava o dedo vagarosamente na água. Este gesto bastava para gerar uma onda, e outra, e outra, e outra. Efeitos multiplicativos. Somos compatíveis. Falamos a mesma língua. Nos fazemos bem, até o nosso limite agüentar. As mãos se tocam. Os olhos trocam sinônimos. Magneticamente os corpos buscam-se, é inevitável. É uma pura e simples, talvez nem tanto, convergência.

Comentários

luiza pannunzio disse…
"Respiro fundo e aproveito o que o momento pode me dar."
Nem parece vc que tinha faltas de ar.
Parabéns!
Estou comemorando contigo.
uma beijota
L:P

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