Borboletas voam pela bolha de Sofia

Minha casa sofreu uma prevista invasão de baratas, já se trata da segunda no mesmo mês. Sinto algo como um preâmbulo dos novos tempos: vejo Kafka me falando da metamorfose. Para minhas amigas, trata-se apenas de algo repulsivo, desagradável. “Socorro!” Sou a matadora oficial de baratas. A salvadora do lar. “Por favor” Gritam para mim. “É nojento”. Sim, concordo. Também acho bem desagradável. Apenas não me assustam. Dou a elas a devida proporção. Algo vem acontecendo. Anda bem humorada pela rua. Sorri para estranhos. Tem no lugar do rosto sério um ar leve, despreocupado. Algo que flutua. Anda lembrando e colocando algumas coisas no lugar. Achando alguns encaixes. Curando feridas, apenas. Entendendo que algumas cicatrizes ficam. O ferimento, quando está aberto, sangrando, dói muito, parece que não vai passar nunca. Com o tempo, acostuma. Foi por perder tempo com o que não me satisfazia que precisei buscar demais. Extrapolar o meu e o dos outros: “Os ambientalistas chamam de fator K o limite de exaustão de um ecossistema, o que define sua capacidade de recuperar-se diante de uma agressão”.
Estranhamente, não acontece mais assim. Parece meio mágico. Mas não é, porque nunca foi tão real. E entendo que real nunca havia sido antes. Busquei o não disponível porque não entendia o que era estar disponível. Não sabia o que era poder estar. Não sabia o que era falar no mesmo tom. Entendia muito bem os excessos. “Se é porção não significativa, não precisa estar mencionada”. Tudo bem. Entendi, não estará mais mencionada. Minhas porções hoje são mencionadas para quem me escuta – não porque são apenas mais uma. Mas porque são essenciais. São especiais. Interessam. Fazem parte. Não por imposição. O ausente já me causa vazio verdadeiro. Não mais preenche. Hoje me alimento de sentimentos. Troco com pessoas de verdade, que me devolvem sorrisos. Por algum tempo, testei meus limites, meu corpo cansou. Hoje se sente recuperado para dar rir daquilo que há cinco minutos seria a coisa mais séria do mundo. Apenas o tempo tem o poder de transformas certas coisas em piadas. Algumas coisas acontecem quando você menos espera. Eu nunca acreditei muito nisso. Sempre busquei o que achei que queria. Talvez tenha percorrido caminhos mais tortuosos. Tenha feito curvas. Alguns vão por linhas retas, não sei. Não invejo nem admiro estas pessoas. Gosto do gosto de ser labiríntica. De descobrir a cada esquina uma surpresa. Estou descobrindo o prazer de não saber. Quando me falavam que a grande aventura era o desconhecido, eu não acreditava. Achava que era uma grande bobagem. Agora que tudo anda se encaminhando bem, venho apreciando os descobrimentos ocultos. Acho que é esse frio na barriga.

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