Sofia sufoca: nada melhor do que os bons ares da Augusta em boa companhia

"Quando o sol bater na janela do teu quarto
Lembra e vê que o caminho é um só
Tudo é dor e toda dor
Vem do desejo de não sentirmos dor"

Está tudo bem
É quando ele vem
Paralisa meus sentidos
Deixa-me sem ação
Rouba minhas sensações
Adquiro confiança suficiente
Mas isso não basta
Vou levar uma rasteira
Dela algum tempo para levantar-me
Algumas dores ficam
Já não busco mais no que sabia
Já me é indiferente
Esse novo me tira o ar
Não me deixa respirar
Incômodo com efeito analgésico
Eu quero sonhar
É na tranqüilidade que acredito
Pois nela que vivo
Meu corpo reage
Ainda não acostumado
Devolve o desconhecido
Querendo e buscando
Sente tremores, fraqueja
Mesmo sentindo-se forte



Sufocou por quase uma hora dentro cinema. Assistiam a um filme, que, talvez, dissesse mais do que imagens e palavras. Sentia suas pernas formigarem. Suas mãos dormentes. A sala escura lhe causava certa angústia – queria correr para o claro - ao mesmo tempo em que não conseguia imaginar sair dali, nem por um segundo, era como se seus pés estivessem colados no chão. O corpo estava mole, quase se desfazendo na cadeira. Olhava insistentemente o letreiro luminoso verde que dizia: saída. Foi quando viu à sua direita outros dois luminosos: feminino e masculino. Levantou, mesmo com medo de cair. Caminhou rápido. Entrou no banheiro. Olhou-se no espelho: estava muito pálida. Voltou à cadeira. Buscava o ar. Sabia: ele estava ali. “Eu sou normal” – era o que pensava. “Tudo isso não passa de minha imaginação”. Além dele, dela, do ar, havia mais alguém ocupando um assento: o medo. Ele não a deixava em paz. Aparece, sempre, de surpresa roubando aquilo que ela vem construindo. Sente-se fraca, muitas vezes pensa em desistir. Sabe do que já foi capaz, do quanto já se magoou. A língua estava amortecida. “Nenhuma palavra coerente sairá da minha boca”. Quando o filme terminou, levantaram. Quando viu as escadas, achou que iria descer rolando. Mas não. Foram os ares da Augusta. A conversa tranqüila. O incrível poder tranqüilizante. Não costumo repetir palavras na mesma frase. É que tenho me sentido tranquila, apesar do medo. A tranquilidade é uma parte de mim que não conheço. Ando gostando, e muito. Nos damos bem. Para mim, isso era improvável. Algo quase impossível. Já havia tomado algumas decisões irrefutáveis. Ando revendo alguns conceitos. Acostumei-me, por muito tempo, com o cinza. Quando vejo outras cores, me assusto um pouco. Acredito que é simples, compliquei por muito tempo. É como se ainda estivesse largando um vício estranho, algumas vezes ele me chama. Tenho o poder de dizer não, e fazer as minhas próprias escolhas.

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