No mundo só, de vestidos flutuantes: Sofia descobre o poder do imprevisível cambiante

Era fatal: passaria o resto de seus dias só. Já não sentia nem mais o amargar do gosto que teimava em aparecer na boca. Havia se acostumado com seu mundo de acontecimentos concretos exatos. Exalavam o seu cheiro, perfumavam os seus gostos. A lógica era sua. Buscava resposta em suas próprias incoerências: elas estavam todas lá, compartimentadas de A a Z. “É na minha bagunça que me entendo”. Algo estava trancado, por todas as partes, minúsculas chaves travavam as saídas. Invisíveis a olho nu. Apenas na escuridão, quando piscam os flashes, brilham para serem vistas. Fazem-me pequena. Encolho, emudeço, mesmo cheia de palavras. Vontades trancafiadas enjaulam meus desejos.
Leve-me com cuidado, demasiadamente leve: possui apenas cinqüenta quilos este corpo. Compensa a alma, carregada de uma insustentável inquietude, transita entre a fluidez e a completa imobilidade.
“Eu quero alguém para comigo passear, e no sábado à noite, meus vestidos de festa usar”. Foi então que ele sorriu. Ela considerava bobo, um tanto quanto infantil o que dizia, mas, sem que percebesse, eram seus sentimentos que tomavam forma naquelas palavras. A partir daquele dia os vestidos não ficariam mais sozinhos no armário, tristes, enfileirados, de costas um para o outro. Agora eles teriam companhia.

Comentários

Anônimo disse…
Adoro passar aqui e ler... principalmente ler...
e olha que sei que estou fugindo do padrão da minha cidade natal... mas fazer o q? eu tenho um pouco disso de quebrar regras (bem pouco comparado com outras pessoas)... mas acho q deve ser de família...

saudades!!
venha logo pra casa!!

te amo!!
beijos da bonitinha mas ordinária de floripa.
Curti muito seu blog,
gostei muito de sua descrição das crises de sofia.
muito bom mesmo.
Visite o meu tb.
grande bjo....
se não reconhecer é o Igor (ex-fedô), amigo do Luis.

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