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"Não quero mais sentir". Foi o que afirmou, com os olhinhos inchados de quem há dias não parava de verter lágrimas. "Me prometa que vai parar de doer, e que daqui um tempo, o que passamos não significará mais nada. Quero chegar no estágio em que tudo será como se nunca tivesse jamais existido". Lamento, não somos computadores. Não dá para desinstalar um programa, magicamente. O que passou fica, nos compartimentos, para sempre. O que muda é o significado. Algumas coisas, simplesmente, perdem a importância. É apenas questão de tempo. Sentimentos vão além do que se pode explicar: "Diga que a melodia é alegre ou sombria; ela estará sempre além ou aquém de tudo que se possa dizer a seu repeito".

Acordou cedo. Tomou café: chá verde, pão com manteiga e pão de mel. Risadas com sua irmã mais nova. Segue, satisfeita, em boa companhia. Almoçaram deliciosos e crocantes bolinhos de arroz. Devorou uma deliciosa salada verde. Provou seu lindo vestido: amarelo e rodado. Cinema. DVD. Hoje foram dois filmes. Filmes a fazem feliz. Gosta de rir. Bem alto. De coisas que a satisfazem. Do ano de 1968. Do menino bonito do filme. Do bolo com cobertura de mousse de maracujá; foi ela quem escolheu na padaria. Considera cada vez mais suas sensatas escolhas.

São três. Gostam de se ver. Apreciam momentos de realidade quanto estão juntas. Mas não esquecem de sonhar. Ensinam. Aprendem. A admiração é recíproca. A troca é intensa. Concordam, discordam, convivem. Hoje cada uma foi para sua casa sozinha.

Chegou, leu seu jornal, tomou banho, jantou. Sentou na cadeira e chorou um pouco. Não por nada. Foi apenas por tudo.