A liberdade de Sofia: algumas perguntas não têm respostas


Seguiu caminhando até a montanha mais alta, para buscar no sábio senhor a resposta. Toda a pergunta tem uma resposta, pensava. “Algumas não têm” Foi a primeira coisa que lhe disse. Andava cansada, muito. O mundo não havia sido justo. Esforço demasiado. Já há muito não via o sol brilhar. “Eu gostaria de encontrar a liberdade” Caminhou, por muito, solitariamente pela multidão. Olhava no espelho e não via nada. Queria encontrar alguém, perdia-se em ninguém. As aglomerações não passavam de solitárias solidariedades. Já não cria em ideais. “Padeço de um mal, e por ele sequer derramei uma lágrima, memórias em demasia aborrecem a alma. Eu procuro a liberdade”. Olhando a pequena jovem nos olhos, o franzino velhinho respondeu: “Pois sabe que não existe liberdade, e sim liberdades, elas proliferam-se por aí, no plural, em quantidades múltiplas, não estão dentro de mim, ou de ti. Por esta razão, minha cara, não tenho resposta alguma para te dar. Não encontrarás satisfação buscando no teu âmago algo oculto, nem mesmo nos outros. Pensa sempre nas relações, a vida é feita de trocas”.
Cabisbaixa, com os olhos tristonhos, mirou o céu azul. Era um gosto de não-lugar. Ausência. A imensidão do horizonte entrava em contato com um sentimento profundo de densidade. Basta alguém inesperado aparecer em um momento da vida para ela se transformar. Despertar sentimentos e sensações que antes se acreditavam inexistentes. Sentou-se na menor pedra que encontrou ao redor. Queria encontrar equilíbrio, já que a liberdade, descobriu, era retórica. Blá, blá, blá. Queria sentir o vento no rosto. Fechou os olhos. Abriu os braços, o sol queimava o seu rosto. Esvaziou a cabeça de qualquer pensamento, pelos máximos dois segundos que consegui. Foi realmente libertador. Intensidades de pequenos momentos reais. De sensações múltiplas em prazo longo. Não se importa em esperar. Sabe que cultiva algo que vale a pena. Sorri, no mais das vezes. Por mais que, em certos momentos, as lágrimas ainda teimem em rolar pelo seu rosto. Elas brotam, caem, têm um destino certo. Depois secam. E tudo fica bem. Porque vai ficar tudo bem.

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