Dormindo acordada

Dormiu plena. Acordou vazia. Buscou a cama estranha; procurava a sensação de acordar sem saber onde estava. São aqueles segundos mágicos: você desperta sem noção de onde esteja, e todos os lugares, desde os mais improváveis, passam pela sua cabeça. Acontece quando você está viajando, muito distante, e acorda achando que está em casa, na casa dos seus pais, de algum amigo, em algum lugar perdido da infância. Ela não sabia onde estava, por isso não se importava de acordar em qualquer lugar.

- Eu preciso sair!
- Mas nós estamos na rua!
- Estou falando de me divertir!
- Não estamos nos divertindo?

Como as bonequinhas que ficam estáticas dentro do vidro redondo, era assim que a tratavam. “As pessoas só compram aquilo para girar a boneca de cabeça para baixo e para cima, e ver a neve cair, num movimento monótono, repetido.” Gostavam de observá-la, cada pequeno gesto, cada ínfimo deslize. Ele a via em sua redoma, com seus limites; se passasse do ponto, estouraria. Ela era além dos limites. Jamais os havia buscado, não tinha interesse em saber aonde se encontravam.

- Eu sinto que vivo a dar voltas em você! Nunca chegamos a lugar nenhum!
- Você não sabe o que quer. Quem não sabe o que quer não pode querer chegar a lugar nenhum.
- É você que não entende o que eu quero.
- Você realmente não sabe o que quer. Ou, se sabe, finge que quer outra coisa.

Ela estava apaixonada. Sabia que ele não se sentia da mesma forma. Preferia esperar que alguma coisa fosse acontecer, era melhor assim. Antes isso do que aceitar que talvez ele estivesse dando para ela o máximo. Esperava: ele acabaria percebendo o quanto a amava e que, no fundo, estava apenas inseguro.
Se a vida nos dá pistas enquanto seguimos, e andando construímos nosso caminho, a estrada de Sofia desembocava em um beco sem saída, percorrido por ela num incessante movimento de vai-e-vem. O único percurso completo era ele.

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