Cafés e algumas divagações necessárias

Lavando a louça, espera que tudo fique enxuto.
Fecha os olhos, sente que as mãos se molham, e escorre a água fria.
É inverno. A espuma não desengordura a louça nem desafoga seus pensamentos, submersos.
O ônibus passa depressa, corre demais, concorrendo com a velocidade de suas divagações. É ela quem tem que quebrar seu ritmo e entrar na dança. Prestar atenção ao que passa despercebido. O reflexo da janela se transforma. Vendo a paisagem passar, o sol vai cedendo lugar a uma escuridão que a deixa ver a lua refletida nas árvores. Escutando aquela canção que a faz sentir o mesmo arrepio, o da primeira vez, admira a beleza escondida na vista.
Sentiu ele chegar. Esperou que se aproximasse. Diferentemente dos tempos de ansiosa, esperou para ver qual seria a sua reação. Deu-lhe um abraço. Forte. Desligou a água fria.
Ainda vestida de avental, largou o prato ensaboado sobre a mesa. Aproximou-se dele, apreciando-lhe os olhos. Subiu um tantinho os pés, alcançando o seu beijo. Sentiu seu gosto de café: doce. Já havia provado alguns demasiadamente amargos. O dele era diferente: quente, confortável e sossegado. Aquecendo-a nas noites geladas.
Era por ele que seu coração batia enquanto a chave procurava o buraco da fechadura e dava duas voltas para abrir, e era ele que ela queria ver assim que abrisse a porta. Um dia ela saiu, achando que jamais voltaria. Ele sabia que continuaria ali, a esperar por ela:
- Pensei que lhe havia perdido.
- Era eu que não sabia mais onde estava.

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