Deixe-me pular, sempre no mesmo lugar

Detesto quando estou tomando banho e o telefone toca. Dilema entre desligar o chuveiro, secar-me correndo e sair pingando pela casa, para chegar ao aparelho bem na hora em que ele pára de tocar, ou continuar o banho enquanto engulo a curiosidade de quem está do outro lado da linha; não me agrada.
Também não gosto quando, mesma cena, o banho, depois de escolher um disco qualquer para acompanhar-me neste impenetrável momento, coloco-o no aparelho, tiro a roupa, entro no chuveiro, mergulho de cabeça na água bem quente, e já completamente imersa em vaporosos pensamentos, a música começa a pular. Por alguns segundos você pensa: “Vai passar, vai passar”. Aí lembra que não foi a primeira vez: “Isso já aconteceu antes”.
Sabia que estava arranhado. Vê-se às voltas com algo que, há tempos, já deveria estar resolvido, os sempre mesmos pulos. Prefere ver pular, a pular para o improviso. Risco não quer dizer condenado, vai-se adiante. Arranhar faz parte, a vida tem riscos.

Comentários

Postagens mais visitadas