Sofia vive dias de ogra no porão - sentindo-se linda como nunca

O desconforto do rosto inchado acompanhava a sensação de peso que seguia por todo seu corpo. Pulou da cama e correu para o banheiro para olhar-se no espelho. Mesmo tendo dormido horas suficientes, manchas pretas, posicionadas estrategicamente debaixo de seus olhos, teimavam em parecer maior a cada manhã. O claustro dos últimos dias estava refletido naquela pequena porção de pele que se amontoava e enrugava, comprovando seu árduo trabalho: suas olheiras eram ela.
Trancava-se no seu porão, disposta a escrever textos sem parar. Privada da luz do sol, a pele começava a adquirir um tom de verde. Já se viam as veias. O sol brilhava lá fora, mas para ela isso não importava. As conexões por entre seus papéis brilhavam mais do que qualquer raio que pudesse ver para além daquelas paredes. O cabelo crescia desordenado, as unhas adquiriam uma forma estranha. Vestia roupas que a deixavam com uma aparência que não era a sua. Não dava muita bola; o sentido que entendia era outro. Enxergava além, as conexões faziam nexo para dias que ainda não estavam no calendário. O tempo adquiria todo um outro nível dentro de si: já não causava desconforto, nem estrago.
Sabia que podia esperar. Na espera ia se fazendo. Não precisava ficar sentada sem fazer nada. Assim como não precisava esperar fazendo-se mal. Ou abatendo seus males de forma a se fazer mal. Podia fazer de forma pacífica. Era assim que se sentia. Sem explicações. Na manhã seguinte, despertou com a mesma cara inchada:
- Eu não entendo esse seu mau humor!
- Eu não estou tentando te dar nenhuma explicação.

Comentários

Dismael Sagás disse…
Adorei a Sofia, passarei a acompanha-la!
(espero que ela continue)

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