Segue a ação investigativa (imaginativa)

“Tal como os que empreendem uma viagem para ver com os próprios olhos uma desejada cidade e imaginam que se pode gozar, numa coisa real, o encanto da coisa sonhada”
Proust. Em busca do tempo perdido. No caminho de Swann. Vol I. p. 12.

Tinha dezesseis anos novamente. Os dez que haviam passado já não mais tinham importância. Respirou fundo, absorvendo em suas narinas o odor de velho. O álbum que tinha em suas mãos
havia trazido não apenas lembranças, mas conectara um emaranhando do que um um dia havia sido, pulsando em seu pulmão, transformando-a no que agora era. As decisões lhe pertenciam. Fitou os dois retratos. O sorriso iluminado de outrora tornara-se sépia amarelado. Ele não a fizera feliz porque ela assim não se sentia. Murmúrios silenciosos. Olhou as fotos mais uma vez. Potências não realizadas se tranformam em tristeza. Sussuros de nostalgia. Chances não aproveitadas. Expressão sincera. Colorida. Ali havia vida. Ela não viu. Nas fotos podia enxergar refletido dois caminhos distintos de quem um dia teve a oportunidade de escolher. Elegeu o representante de sua mágoa estática, estanque, estatística. Decisões equivocadas se tomam. Vá pela sombra. Fale para quem te escuta. Existem opções. Abra os teus olhos. Enxergue. Queria que alguém tivesse berrado. Avisado. Tinham tentado. Em vão. Hoje grita. Para si mesma. Para que entenda. Para que não continue quebrando o que é frágil e não pode ser reposto, consertado. Algumas coisas não tem reparo. Ela não reparou isso por muito tempo...
É como um vaso, quando se quebra em mil pedaços, não adianta tentar colar, os cacos estão indefesos, jogados pelo chão, já está esilhaçado, se pode tentar remendar... mas as marcas permanecem. A única coisa que pode ferir é a si mesma, lembra?

Hoje quero te falar
Escutar o que tens pra me dizer
Saber como teria sido apreciar
Alguém compatível
Foi coisa que nunca ousei experimentar
Porque sempre esteve além do meu alcance
Deixei-te ir
Nem sequer me despedi
Queria saber das tuas viagens
Das tuas descobertas
Por onde andaste
Encontraste-me em momento de pensamentos
Demasiadamente planos
Mas enxergaste além
Quem não via era eu
Cega demais
Encerrada em mim
Trancada no íntimo
Não podia sair
Bati
Nas portas erradas
Busquei
Em portos vazios
Doei
Demasiado em vão
Voltamos à memória
Juntos como se tivesse sido
Demasiado tempo para teres partido
Desencontros e cafés na esquina
Olhares despindo verdades
Incertezas flutuam
Dez anos não passaram

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