Sofia está a pensar em roupas, ou por roupas: roupas que te quero, ou por que te quero?

Chega um dia em que, não adianta, você tem que dobrar as suas roupas. Importa muito pouco aquilo que você não faça: elas não se arrumarão sozinhas. Imaginá-las se autodobrando não funciona. Trabalho nenhum, dias, talvez meses, jogando peça por peça, atulhando cada uma descuidadamente. Agora você não encontra mais nada, virou uma confusão: um bolo amorfo multicolorido.

A cabeça funciona mais ou menos do mesmo jeito. Quanto mais amontoa, mais embola. Só que é pior. Não dá pra ver. Apenas sentir. Muito. Vamos empurrando a bagunça pra um fundo. Os fundos sempre são um mistério, achando que, PLOFT!, ela desaparecerá.

No limite, de tão abarrotado, algo parece prestes a transbordar. Você, devagar, abre a porta do armário e acaba sendo soterrada por um monte de roupas e de pensamentos que estavam esperando a oportunidade certa para explodir. Ou senta e dobra uma por uma, recolocando-as nas pilhas, para que fiquem organizadas, ou atura o sofrimento, enterrada sem ar, esmagada pelo desnecessário.

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